Poderia se dizer que a primeira noite de desfiles do Carnaval carioca teve homogeneidade temática entre os enredos, não conseguisse a Porto da Pedra mobilizar seus 3,8 mil componentes para cantar a história do iogurte. Dois sambas buscaram nas artes visuais a inspiração para colorir a Sapucaí, em homenagens a Cândido Portinari e Romero Britto. A Bahia esteve representada na ode ao sincretismo religioso da Portela e na lembrança da Imperatriz ao centenário de Jorge Amado, e o Nordeste seguiu embalando o sambódromo com enredo da Beija-Flor sobre São Luís do Maranhão em memória a Joãosinho Trinta. A cultura nacional só voltou a sair de cena com o último desfile, o da Vila Isabel, cujas cores em tributo a Angola coincidiram com o raiar da manhã de segunda-feira.
Uma Sapucaí recheada de celebrações à brasilidade se apresentou a visitantes estrangeiros como Jennifer Lopez e Cooper Hefner, filho do dono da Playboy que chegou ao Rio acompanhado de seis "coelhinhas" e afirmando que as brasileiras "tinham chance" com ele. Já a cantora causou tumulto nos camarotes, fazendo se acotovelarem jornalistas e fãs até ser levada a um local reservado. Ela e o namorado ficaram pouco tempo no local e não tiveram a sorte de conhecer o cantor Michel Teló. "Seria bacana conhecê-la. Falaria 'delicious' para ela", brincou o cantor.
Teló também chegou atrasado para ver Luiza Brunet, que manifestou a intenção de entrar para o Guinness, o livro dos recordes, como a rainha de bateria mais antiga da avenida. Entre as recordistas da acumulação de capital, a socialite Narcisa Tamborindeguy fez jus ao nome que recebeu ao ser perguntada se gostaria de ser uma rainha de bateria: "eu sou a minha própria rainha". Mais comedida, sua colega do programa Mulheres Ricas Brunete Fraccaroli afirmou que "não tem essa de ser rica no Carnaval, é uma festa em que todo mundo se iguala". Confira na cobertura do Terra como foram os sete primeiros desfiles do Carnaval do Rio:
Renascer
A Renascer de Jacarepaguá abriu os desfiles do Carnaval carioca como estreante no grupo especial. A agremiação apostou no colorido e na alegria das obras de Romero Britto, homenageado no enredo O Artista da Alegria Dá o Tom na Folia , para conquistar os jurados. O início do desfile foi marcado pela emoção dos integrantes, que vibraram com a estreia no grupo especial após 20 anos de fundação da escola. O mestre de bateria Paulão não segurou as lágrimas e comandou os ritmistas chorando durante a entrada na Sapucaí. A bateria foi um dos destaques do desfile, que fez algumas paradas sutis ao longo da apresentação. As cores vibrantes do homenageado foram lembradas na comissão de frente "Arte da Alegria", que apresentou sete grandes latas de tinta que formavam o nome da escola em luzes de neon.
Portela
A Portela balançou as arquibancadas do sambódromo do Rio de Janeiro na noite deste domingo com desfile sobre a fé e as festas populares da Bahia. O desfile teve um gosto especial para os integrantes - além de estar em jejum de vitórias há mais de 20 anos, a escola sofreu com o incêndio que prejudicou seu desfile em 2011. Para trazer sorte, a Portela cantou a fé da Bahia com o enredo É o Povo na Rua Cantando. É feito Uma Reza, um Ritual. As influências africanas da Bahia foram lembradas nas alas, com referências à cultura negra e ao Ilê Ayê, o primeiro bloco composto por negros de Salvador. A terceira alegoria, "Abram Espaço Nesta Sagrada Caminhada", destacou a religião como maior herança do continente no Estado, contando com integrantes do Balé Folclórico da Bahia, que faziam performances e danças afro.
Imperatriz
Com problemas no início do desfile e uma corrida contra o relógio, a Imperatriz Leopoldinense chegou à Sapucaí para homenagear o centenário de Jorge Amado. A escola mostrou a Bahia folclórica os personagens exóticos descritos pelo escritor, conseguindo evitar maiores prejuízos no desfile, mas enfrentando momentos de tensão. Dois dos seus carros tiveram problemas: - um deles, que reproduzia a Lavagem do Bonfim, demorou para contornar o acesso à Sapucaí e modificou a distribuição das alas; já a última alegoria teve uma de suas estruturas danificadas, e os destaques tiveram que desfilar na base do carro. As alas precisaram acelerar para conseguir cumprir o tempo estabelecido, o que pode ter comprometido a evolução da escola e a avaliação dos jurados.
Mocidade
Quarta escola a desfilar na Sapucaí, a Mocidade Independente de Padre Miguel levou ao sambódromo a arte de Cândido Portinari. A escola apostou no brilho e nas cores e imagens fortes pintadas pelo artista brasileiro para manter a empolgação do público nas primeiras horas da madrugada de segunda-feira. Apesar de grandioso, o desfile contou com problemas no seu carro abre-alas. A alegoria saiu de rumo e colidiu com a lateral da Sapucaí. O incidente não deixou feridos. Na dispersão, novamente o carro atrapalhou a saída das alas. Com 22 m de comprimento, a alegoria não conseguiu fazer a conversão e ficou atravessada na pista. Para contar a trajetória do pintor, cuja morte completa 50 anos em 2012, a escola foi à avenida com 41 alas e 3,8 mil componentes. O tamanho do enredo causou apreensão no final da apresentação e provocou uma acelerada no desfile, que se encerrou no limite do tempo.
Porto da Pedra
Com um enredo inusitado, a Porto da Pedra não conseguiu empolgar o público com Da Seiva Materna ao Equilíbrio da Vida, mostrando a história do leite e a importância dos seus derivados na alimentação. O luxo das alegorias e fantasias foi a solução encontrada para driblar o tema difícil. Sem brilho, a comissão de frente desfilou vestida de lactobacilos. Os dançarinos mostraram a fermentação do leite e, como resultado desse processo, as fantasias mudaram de cor, do branco para o rosa. O abre-alas da escola também mostrou o leite como a seiva da natureza. À frente da árvore, uma grande tigresa articulada, símbolo da escola, amamentava dois filhotes.
Beija-Flor
A Beija-Flor de Nilópolis entrou na Sapucaí na manhã desta segunda-feira para brigar pelo bicampeonato do Carnaval carioca. Com o enredo São Luís - O poema encantado do Maranhão, a escola celebrou a história e a cultura do Estado nordestino, mas foi a bela homenagem ao carnavalesco Joãosinho Trinta, morto em dezembro do ano passado, que surpreendeu e emocionou o público. A atual campeã reeditou em seu último carro a polêmica alegoria do carnavalesco no desfile de 1989. A imagem "Cristo Mendigo", censurada 23 anos atrás, recebeu nova versão, e a figura de Joãosinho Trinta foi a que surgiu sob a lona. Ao redor da escultura, que acenava para as arquibancadas, centenas de mendigos lembravam o enredo "Ratos e Urubus". Na chegada à Apoteose, a alegoria foi aclamada pelos foliões sob gritos de "é campeã".
Unidos de Vila Isabel
A Unidos de Vila Isabel entrou na Sapucaí para homenagear o ritmo do semba, que influenciou o samba brasileiro. Com o enredo Você semba lá... Que eu sambo cá! O canto livre de Angola, a última escola a desfilar destacou as raízes religiosas, as paisagens e a cultura africana. O enredo foi composto por Arlindo Cruz, além de outros músicos, a partir de concepção de Martinho da Vila, que é integrante da escola e membro da comissão de compositores da Vila Isabel desde 1963. Logo na chegada à passarela do samba, a escola encantou o público com a elaborada comissão de frente, que representou uma savana africana. A saída dos povos angolanos para o Brasil foi lembrada com alegoria que retratava os navios negreiros. A ala das baianas, com fantasias brancas e detalhes de estampas africanas, dançou a saudade que os escravos sentiam de sua terra natal, o banzo. As demais alas mostraram a resistência da identidade cultural dos negros no Brasil.
Terra
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