PADRE SOLO DANTAS DE FRANÇA

Nostálgico e sentimental, chegando facilmente às lágrimas devido emoções fortes em razão do apreço a pessoas queridas, estimadas, vistas com respeito e atenção, o sertanejo não consegue esconder fascínios despertados pela presença amiga de vultos de sua história de vida.

Assim aconteceu há poucos dias quando conterrâneo e parente de nome Eudézio Cardoso, residente em Presidente Médici, Estado de Rondônia, me enviou via internet, fotografias de sua visita a Pombal, a velha terra de Maringá.

Forte emoção me contagiou quando o meu padrinho Padre Sólon Dantas de França se configurou em minha tela, trazendo recordações recentes de um respeitado vigário que durante décadas conduziu os caminhos definidos pela liturgia Católica no município de Pombal.

Mergulhei nas reminiscências do passado, rememorando quando aos sete anos de idade fui crismado na matriz de Nossa Senhora do Bomsucesso. Eu o escolhi para padrinho, sentindo-me honrado em ser afilhado do vigário da paróquia.

Homem de hábitos simples, filho do grande poeta popular Belarmino de França, natural do município de Paulista, Estado da Paraíba, Padre Sólon se mostra na fotografia apático e desestimulado, como se fitasse o infinito. Não lembra em nada o homem da voz potente que exultava a multidão a saudar os ícones católicos nas festas do Rosário, da padroeira ou de São Sebastião.

Padre Sólon, deprimido, angustiado e triste, vítima de golpes rudes e violentos que lhe feriram profundamente a alma, é estimadíssimo e respeitado n cidade de Pombal. O povo do velho burgo sertanejo sofre com ele suas mágoas e seu definhamento. A parcela da humanidade que sempre enfatiza ações complexas, muitas vezes irresponsáveis, ousadas e desmedidas, age corroendo o espírito de semeadores de felicidade.

Seu sonho era dotar Pombal de instituição de ensino superior que implementasse o terceiro grau e pós-graduação. Seu esforço se concretizou quando do funcionamento da Faculdade de Agronomia e Ciências Contábeis, vinculada à paróquia. A ingratidão humana se personifica também na agonia do velho vigário.

Enumerar suas obras, atuações e conquistas sociais seria quase impossível, demandando pesquisa compenetrada. Pombal deve muito a Padre Sólon. A cidade e a população tem o dever de render-lhe tributos, homenagens, e não apenas acompanhar sua escala regressiva, sentindo pena de sua situação. É o mesmo que negar a importância deste fenomenal ser humano na vida de todos os filhos da terra de Maringá que se encontram espalhados pelo globo e de muitos que se encontram trilhando o infinito dimensional.

Obrigatoriamente deve constar em toda consciência que apóia-lo e lhe transmitir afeto e carinho são formas de demonstrar gratidão por todos os benefícios e confortos espirituais que Padre Sólon Dantas de França trouxe aos filhos de Pombal quando do seu ministério eclesiástico, interrompido pela idade e pelo avançar da doença degenerativa que lhe mina espírito e alma, as quais conjugaram-se com o peso da incoerência e do desrespeito a fim definindo fração significativa quanto a responsabilidade pelas condições de saúde que o velho vigário apresenta. Deprimido, abatido e cansado, na fotografia ele demonstra o quanto sofre devido o avanço de concepções mais modernas, subjugando o que considera arcaico. A modernidade na cidade de Pombal chegou mesmo a patrocinar uma verdadeira revolução na igreja Católica, quando uma cantina foi aberta na secular igreja de Nossa Senhora do Rosário, cuja construção data de 1721.

Padre Sólon nunca se atreveria a isso. Se ordenou por vocação e Crença no desempenho do sacerdócio. No tempo que passei em Pombal, quando de minha infância e parte da juventude, eu nunca vi ou ouvi dizer que ele tivesse destruído um centímetro quadrado do velho monumento em estilo barroco. Pelo contrário, o templo de culto ao Rosa’rio, o qual mescla três culturas – árabe, em razão da presença do Tecebá, o rosário mulçumano, entre os dedos da Santa, cristã e africana -, marco do domínio português da Casa da Torre no sertão nordestino, sempre teve cuidados e atenção especial. Ao contrário de Padre Acácio Rolim, Padre Sólon Dantas de França enxerga com simpatia o culto dos negros à Nossa Senhora do Rosário.

Ele nunca deixou de conduzir as festas do Rosário, sempre aclamado pela multidão, cujos aplausos simbolizavam a alegria em estar perto do condutor espiritual, cuja vida sempre esteve indissociavelmente interligada à efetivação dos preceitos católicos. Sua voz inconfundível ecoa ainda nas ruas de Pombal. Assim, minhas reminiscências autorizam mergulho nostálgico pelas trilhas da emoção, recordando como sua indelével e marcante presença fomentava o orgulho dos pombalenses quando da condução do Rosário no tradicional evento religioso do princípio de outubro ocorrido anualmente na terra do sol, terra de Maringá, a exemplo a festa realizada na cidade potiguar de Caicó. A diferença é que m Caicó a festa do Rosário não é mais importante que a festa da Padroeira, fato este, no contexto religioso brasileiro, que eu saiba, inédito, Em Pombal a festa de Nossa Senhora do Bomscesso em diversas oportunidades não se realizou, provavelmente em razão de o povo de Pombal ter concentrado a Fé no culto ao Rosário.

Padre Sólon não pode se sentir sozinho, o dever da população sertaneja que convive e conviveu com ele é de prestar homenagens ao velho vigário, dando-lhes em vida as flores merecidas, o amor necessário para que ele se sinta confortável, mostrando-lhe que o amor dos pombalenses está expresso em gestos de ternura que terão o objetivo de faze-lo ciente do respeito que Pombal tem por ele, como pessoa humana, agente social e pela forma brilhante que conduziu a efetivação do conforto espiritual de gerações em Pombal e demais cidades que fazem parte de suas razões de vida.

José Romero Araújo Cardoso - Natural de Pombal - PB/portal paulista online