É consenso na classe médica
que vencer o Alzheimer significa uma das maiores dificuldades do
momento. O que muitos não imaginavam é que esse desafio pode ser bem
maior do que se pensa.
Foi
essa a descoberta de um novo estudo realizado nos Estados Unidos, que
concluiu que a doença pode ser responsável pela mesma quantidade de
mortes causadas por males clássicos como problemas no coração e câncer. O
trabalho foi publicado no jornal médico da Academia Americana de
Neurologia.
O
resultado da pesquisa vem “corrigir” informações do Centro para
Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). Segundo o
CDC, o Alzheimer é o sexto na lista das principais causas de mortes
naquele país. O topo do ranking é ocupado por danos cardíacos, seguido
de câncer. Estes números são baseados no que é relatado nas declarações
de óbito.
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O Alzheimer e outras demências são sub-relatadas nesse tipo de
documento e nos registros médicos. Essas declarações muitas vezes
mostram a causa imediata da morte, como pneumonia, em vez de listar a
demência como uma causa subjacente. A tentativa de identificar uma única
causa muitas vezes não contribui para o entendimento da realidade do
processo que leva ao óbito - disse na conclusão do estudo Bryan D.
James, PhD da “Rush University Medical Center”, em Chicago. Ele é um dos
pesquisadores responsáveis pelo trabalho.
Segundo
o cientista, as mortes por Alzheimer excedem em muito os números
reportados pelo CDC. Em 2010, segundo o estudo, 503.400 pessoas acima de
75 anos perderam a vida por causa da doença nos Estados Unidos. Este
total é cinco a seis vezes maior que os 83.494 casos relatados pelo
órgão, com base nos atestados de óbito.
Na
avaliação da neurocientista dinamarquesa Gitte Moos Knudsen, que faz
parte do quadro de diretores da Fundação Europeia para Pesquisa do
Cérebro Grete Lundbeck - instituição criada pela Fundação Lundbeck para
estimular a pesquisa em neurociências -, muitos idosos que sofrem com
sintomas de demência não recebem o diagnóstico correto da doença.
-
Talvez isso aconteça pois o problema é frequente na idade avançada, de
modo que é quase considerado um curso natural da vida, ou porque as
pessoas pensam que o Alzheimer não pode ser tratado. Ambas as percepções
estão erradas. Essa é uma doença cerebral que requer diagnóstico
correto e que pode, sim, ser tratada, embora atualmente apenas
amenizando sintomas - observa.
Segundo
a pesquisadora, atestados de óbito são indicadores pobres da doença e
os médicos deveriam ser mais conscientes sobre a causa básica das morte,
e não a causa imediata.
Gitte
também defende que o preconceito, especialmente por parte de
familiares, também é algo que pode influenciar no relato distorcido
sobre a morte de parentes relacionadas ao Alzheimer.
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Isso é muito comum. Apresentar sintomas de demência ainda é considerado
por pacientes e familiares como uma condição estigmatizada - observa.
Estudo aprofundado
Para
a realização do estudo, 2.566 pessoas com 65 anos ou mais receberem um
teste anual para demência. A idade média dos participantes foi de 78
anos. A pesquisa descobriu que, depois de uma média de oito anos, 1.090
participantes morreram.
Um
total de 559 participantes que não apresentavam sinais de demência no
início do estudo desenvolveram sintomas de Alzheimer. O tempo médio
desde o diagnóstico até a morte era cerca de quatro anos. Após a morte, a
doença de Alzheimer foi confirmada através de autópsia em cerca de 90%
das pessoas que foram diagnosticadas clinicamente.
O
trabalho averiguou ainda que a taxa de mortalidade foi mais de quatro
vezes maior após o diagnóstico da doença em pessoas cuja idade variava
entre 75 e 84, e quase três vezes maior em pessoas com 85 anos ou mais.
Mais de um terço de todas as mortes nessas faixas etárias foram
atribuídas à doença de Alzheimer.
-
Determinar os verdadeiros efeitos da demência neste país é importante
para sensibilizar a opinião pública e identificar prioridades de
investigação sobre esta epidemia - garantiu James no estudo.
A neurologista Gitte Knudsen concorda que um dos primeiros passos na busca de soluções para este mal é desmistificar o problema.
-
Hoje o Alzheimer ainda está muito estigmatizado. Isso não ajuda. O foco
da população e dos governos deve ser acabar com esse tabu, pois é muito
importante esclarecer o diagnóstico. É preciso ficar claro que existem
tratamentos disponíveis e suporte necessário para quem tem a doença -
esclarece.
com oglobo
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